A essência das coisas

Alessandro Faleiro Marques • 13 de outubro de 2022

Alessandro Faleiro Marques


Revisor de textos, redator, professor e diácono na Arquidiocese de Belo Horizonte.


A essência das coisas

      Mais uma manhã na Pão do Céu, clássico estabelecimento de esquina num bairro residencial de um grande centro urbano brasileiro. Aos primeiros raios de sol, o tamborilar metálico dos cadeados, o ranger das grades e o trovoar da retrátil porta de aço anunciam aos vizinhos que a padaria já está às suas ordens.

      …

      “Bom dia, sô Hélio! Tudo bem com o senhor?”

      “Opa! Bom dia! Vou levando… Tem dia que tudo está daquele jeito! Semana passada, passamos por um susto! Precisa ver! Mais um assalto, o quarto deste ano. Não sei mais o que fazer!”

      “É mesmo, sô Hélio!? Que chato! Acho que estamos perdidos!”

      “Pois é! Não sei o que dizer! Que preguiça deste mundo! Nem gosto de ficar falando! Enfim… Bola pra frente, né, Dona Lúcia!”

      “Isso mesmo, sô Hélio… Ficou sabendo que a paróquia não vai mais fazer missa aqui no salão?”

      “Fiquei. Disseram que é por causa das tais medidas sanitárias, essas coisas de pandemia.”

      “Ué… Como pode? Estão falando por aí que a pandemia já está indo embora. Agora é que eles estão tomando atitude? Coisa esquisita!”

      “Isso mesmo! Esse negócio está me cheirando é a comodismo mesmo! Desculpa fajuta para não virem aqui. Quem me contou foi o Teco barbeiro. A irmã dele ajuda lá!”

      “Cruz credo! Também eu soube que a barbearia dele anda vazia ultimamente…”

      “Também pudera… Abriram outras quatro ou cinco na mesma rua que só tem dois quarteirões. Haja bigode para dar conta de tanto barbeiro!”

      “Nesta crise em que estamos, engenheiro, professor, vendedor, publicitário e pedreiro desempregados acabam indo pro Uber ou abrem alguma espelunca. Isso está por todo lado. Devem ser essa gente… Agora, uma coisa: ainda bem que as aulas presenciais voltaram ali na escola. Lá de casa, eu vi que os meninos entram aqui a toda hora. Graças a Deus!”

“Graças a Deus mesmo! Pelo menos dão uma animada por aqui. Algumas horas, a meninada parece um bando de gralhas. Vira um falatório louco aqui dentro. Mas não compram muito. Costumam levar chicletes e aqueles salgadinhos de fábrica que só Deus sabe como são feitos.”

      “Acho que eu não daria conta, sô Hélio. Por favor, me veja leite condensado, detergente, um lápis e aquele caderninho, aquele bem pequenininho ali.”

      … …

      “Pronto, Dona Lúcia! Tudo aqui. Mais alguma coisa?”

      “Deixe-me ver… Também fermento, fubá, uma lata de salsicha da mais barata… Mais… E… Nossa! Esqueci o resto!”

      “É assim mesmo, Dona Lúcia! Está cedo ainda. Às vezes, não acabamos de acordar direito. Acontece.”

      “Lembrei!”

      “Diga!”

      “Sal, aquele mel de saquinho, aguarrás, o absorvente de pacote verde e uma cartela de Engov.”

      … … …

      “Mais alguma coisa?”

      “Acho que não.”

      “Crédito ou débito?”

      “Dinheiro. Sou das antigas!”

      … … … …

      “Pronto! Confira o troco, fazendo o favor!”

      “Deve estar certo! Muito obrigada, sô Hélio!”

      “De nada! Até logo!”

      … … … … …

      “Sô Hélio do céu! Esqueci! Que cabeça a minha! Hoje tem a loteria. Veja pra mim dois cartões simples. Se eu ficar rica, continuo sua freguesa, viu!”

      “Ufa! Ainda bem! Se quiser, pode escolher.”

      “Escolha pra mim! Vai me dar sorte!”

      “Pronto! Não me esqueça mesmo, viu! Sete reais!”

      “Tenho trocado! Obrigada! Agora vou!”

      “Beleza! Até mais!”

       … … … … … …

      “Espere! Veja minha cabeça de vento! Sô Hélio, tem pão?”

      “Não!”

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